quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Você é ou não um idiota em relação à política?

Mário Sérgio Cortella e Renato Janine Ribeiro são dois filósofos - dos melhores que a academia brasileira já produziu. Recentemente, comprei um livro de autoria de ambos e o estou lendo aos poucos, ruminando o ensinamento de cada frase, alimentando-me de leve a cada pensamentoo abocanhado na obra "POLÍTICA - Para não ser idiota", publicada pela editora Papirus.

Sempre gostei de política, de ler sobre o tema e de acompanhar os cenários que a mesma nos oferece. A maioria dos brasileiros, porém, relaciona-se com a temática agindo como perfeito idiota - no conceito original do termo.

Segundo a obra de Cortella e Janine, a expressão idiótes, em grego, significa "aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política". Na atualidade, porém, houve uma inversão do conceito e o que há por aí são pessoas falando 'Não me meto em política' ou "política é coisa de idiota".

Não há como condenar ninguém por ter aversão à política e querer distância de tudo o que se relaciona ao tema. A "filosofia" do jeitinho brasileiro, a Lei de Gerson, o toma-lá-dá-cá quase que diário nos plenários e gabinetes do país, além das cada vez mais presentes denúncias sobre casos de corrupção fazem com que os cidadãos ignorem totalmente a política. E percam o interesse por tudo o que dela se extrai.

Como um furúnculo que chega a seu ponto de maturação e explode, lançando ao ar fétidos Sarneys, Agnelos, José Dirceus e que tais, a política brasileira cada vez mais deixa seu odor pesado por onde passa. Você pode até levar a mão ao nariz para não sentir de perto o que daí advém, mas as consequências da politicalha lhe alcançam.

Esse modo espúrio de fazer política nos atinge em cheio. Afeta o que deveríamos receber em troca dos tributos que pagamos. Rouba-nos, dia, noite e madrugada, a dignidade de cidadãos. E destroi - negociata a negociata - o pouco de crença que ainda tínhamos nos processos democráticos e na história dos homens e mulheres eleitos para nos representar.

Quem tem as mãos e a ficha política nada limpas gasta verbo no plenário para se dizer de coração puro. E até empenha toda a água sanitária possível para tentar exibir uma vida branca, sem uma mancha de aleivosia. Quem foi eleito com o discurso da igualdade e sob as promessas de "dias melhores virão", enrosca-se nas teias da mesmice, da arrogância travestida de democracia.

No meio disso tudo, a população se perde. Tudo o que enxerga a olho nu não corresponde à ideia mais abrangente de política. E assim fica difícil compreender a conexão entre liberdade, democracia e política, como destaca Cortella. "Vale lembrar que, para a própria sociedade grega - nossa mãe antiga, idosa, agora um pouco desprezada - não haveria liberdade fora da política. Quer dizer, o idiota não é livre porque toma conta do próprio nariz, pois só é livre aquele que se envolve na vida pública, na vida coletiva".

Como se dedicar à vida e à liberdade pessoal, algo essencial, e também cuidar do coletivo? Como não fazer parte da máxima "os ausentes nunca têm razão" e que hoje representa uma expressão forte da presença política?

Para dar margem a mais reflexões, encerro com uma provocação de Cortella.

"Política é encargo ou patrimônio para mim, para o jovem, para o outro? A política de ação, não só a política do cotidiano - no condomínio, na escola, na família, no bairro, na ONG, no sindicato - , mas a política como atividade e vida pública, não necessariamente partidária, exige participação. Não fazê-la é algo que, a meu ver, indica alienação. (...) No meu entender, exige certa falta de responsabilização aparente, pois considero que se supor alheio à política é alienação, e não uma decisão consciente. Isto é, não votar pode ser uma decisão consciente, assim como anular o voto, quando tal decisão é amparada por argumentos de natureza política. mas não ir a um debate ou a uma assembleia muitas vezes é mero sintoma de alienação, não o resultado de uma decisão consciente. Portanto, não fazer política nem sempre é uma ação consciente. E penso que a educação deve lidar com isso, especialmente a educação escolar e a que se realiza pela mídia".

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