sexta-feira, 30 de julho de 2010

De sonhos, prazos e planos de governo

- Mamãe, quando a gente vai morar na nossa própria casa?
- Não sei filho, talvez no ano que vem.
- Mas você disse que seria este ano!
- Disse, sim, filho, mas papai e mamãe não tiveram dinheiro para a construção!
- Então você mentiu pra mim!
- Menti não, filho.
- Mentiu sim. Você prometeu que a gente iria morar numa casa este ano e agora a gente continua no apartamento. Você me enganou!!!


O diálogo acima - travado com meu filho Pedro, de 6 anos de idade - levou-me a refletir sobre a responsabilidade que temos com o sonho dos outros. Daí para eu fazer uma relação com as promessas feitas pelos atuais postulantes ao governo da Paraíba, foi um pulo.

Pensando no que os políticos sonham e projetam para o nosso Estado, busquei informações no site do Tribunal Superior Eleitoral, onde há um painel com informações sobre todas as candidaturas. Chamou-me a atenção, inicialmente, encontrar plano de governo que cabe em uma única página!

Será que o desafio de governar um Estado com 223 municípios, população de cerca de 3,7 milhões de habitantes e inúmeras mazelas sociais não deveria ser encarado com mais seriedade? Mais: com que intenção tais planos de governo não detalham números, explicitam metas e prazos de realização?

Por que são tão genéricos e, em alguns aspectos, semelhantes demais? Sendo todos tão parecidos, no geral, o que os diferencia para que mereçam meu voto? Será que, num eventual êxito nas urnas, tais postulantes temem ser cobrados, no futuro, pelo que deixou de ser realizado?

Em alguns programas de governo, as palavras mais usadas são “melhorar, ampliar, reestruturar, implementar, impulsionar, valorizar, fomentar, consolidar, reorganizar”.

“Priorizar o turismo como alternativa de desenvolvimento e de geração de emprego e renda, através de projetos estruturantes”.
“Vencer o analfabetismo, melhorar a qualidade do ensino, ampliar acesso à pré-escola”.
“Dar maior proteção legal e administrativa a segmentos socialmente discriminados e maior severidade na repressão às formas de discriminação”.
“Ampliar as políticas estaduais afirmativas das diversidades e dos direitos humanos, visando à promoção da igualdade étnico racial”.
“Ampliar a rede de assistência às vítimas de violência”.

O que é ampliar? Passar de uma unidade para cinco? Será que este “ampliar” atende às necessidades da população? Com base em que dados sabe-se que há necessidade de “melhorar, ampliar, reestruturar, potencializar, fortalecer, consolidar ou reorganizar”?

O que querem dizer mesmo com “consolidar o efetivo exercício do controle social”? Isso vai acabar com a miséria no Estado? Passa de metade da população o número de pessoas na Paraíba em situação de pobreza absoluta, segundo estudo divulgado recentemente pelo Ipea - o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Esse tanto de verbo no infinitivo vai resolver esse problema? Quando?

Ou ainda: “Redução qualificada da violência com base na análise criminal”. Esta proposta me garante o quê, realmente? Posso sair às ruas sem correr o risco de ser assaltada, sequestrada ou estuprada? Aquele meu colega de redação deixará seu carro estacionado sem medo na calçada? Ou terá o carro roubado novamente? Quantas manchetes sobre assaltos e arrombamentos teremos de publicar no jornal antes que a “redução qualificada da violência” aconteça?

Os exemplos de propostas sem pé no chão ou que não têm como ser cobradas no futuro são vários nos programas de governo. Como a maioria da população ainda não se preocupa com isso e o moído político é o que predomina nas discussões de campanha, fica tudo por isso mesmo. E nenhum plano de governo é debatido e questionado em profundidade.

Agora, como levar a sério programas de governo elaborados para quatro anos (2011-2014) que não apontam como as propostas em questão serão executadas? Será que irão ressuscitar o famoso pó de Pirlimpimpim, tão desejado por mim quando criança? Ou terão ajuda do Mister M, aquele mágico que emplacou a audiência da Globo durante várias noites no Fantástico?

Insisto: como encarar como responsável um programa de governo que propõe como um dos pontos para governar a Paraíba a “elaboração de um verdadeiro plano de moradias populares”? O que é “verdadeiro” para esse candidato a governador? Esse plano sairia do papel quando? Outra: como dimensionar o alcance de um plano que prevê “avanço na infraestrutura do Estado, no que tange aos recursos hídricos, saneamento ambiental, malha viária, matriz energética e infovias”, mas não informa de que forma isso será feito?

Na redação, sempre cobro dos repórteres que a notícia traga informações básicas: o quê, quem, quando, como, onde, por quê, para quê. E também é isso o que espero dos candidatos ao governo – que apontem de forma clara o que sonham para a minha pequenina e querida Paraíba e me digam, na prática, como isso será feito, com quais recursos, em qual prazo.

Que deixem para trás as expressões rebuscadas, os chavões de campanha (como “educação pública, gratuita e de qualidade”, “Equidade, Universalidade, Qualidade e Integralidade para Emancipação social”) e se voltem para propostas viáveis, ideias que saiam do campo das nuvens e tenham cheiro e gosto de terra.

Quero propostas, ideias, planos e soluções que possam em um, dois ou quatro anos passar pelo crivo público, ou pelo dedo indicador de uma criança de 6 anos apontando que, mais uma vez, você, candidato, mentiu e nos enganou!!!

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