Esta semana, comecei a ler uma edição antiga da revista Desafios do Desenvolvimento, publicada pelo Ipea – O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Dentre dezenas de reportagens da publicação, despertou minha atenção um artigo de Padmashree Gehl Sampth, uma pesquisadora das Nações Unidas que é especialista em Assuntos Econômicos da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
No texto “Cidades Inclusivas: uma perspectiva asiática”, Padmashree Sampt define, logo no início, que “uma cidade inclusiva é aquela que busca solucionar não apenas a igualdade econômica, mas também a igualdade social, política e cultural em todos os segmentos da cidade”.
Se eu fosse traduzir, diria assim: não adianta, no caso de João Pessoa, termos avanços significativos nos bairros tidos como nobres, a exemplo do Bessa, Tambaú e Manaíra, se as melhorias da cidade não alcançarem a população que habita os bairros de Mangabeira, Colinas do Sul e Alto do Mateus, só para citar alguns.
Segundo Padmashree Sampt, o Relatório sobre o Estado das Cidades do Mundo 2010/11, do Un-Habitat dá uma contribuição fundamental ao aprofundamento de nossa compreensão sobre a desigualdade das cidades. “As oportunidades e ganhos econômicos e a sua distribuição não podem ser indistintamente isolados. Eles são pré-determinados por fatores sociais, culturais e políticos já historicamente entranhados nas sociedades, e também nas cidades”, afirma Padmashree Sampt.
Como exemplo de mobilização em busca de cidades inclusivas, a pesquisadora das Nações Unidas cita a Ásia e sua tendência em termos de superação da desigualdade urbana e de promoção da inclusão.
“Observou-se que a inclusão econômica está relacionada ao nível de emprego gerado pelo Estado, à presença de incentivos fiscais para as atividades econômicas, à garantia legal e contratual do ambiente geral de negócios, à liberdade de expressão e liberdade de imprensa. Embora até certo ponto esses fatores estejam presentes, as autoridades locais estão sob acirrada pressão para fornecer serviços e infra-estrutura para promover a integração de toda a população”, aponta o artigo de Padmashree Sampt.
Para a pesquisadora, uma vez que a percepção de inclusão na sociedade, nas cidades asiáticas, é frequentemente determinada por preconceitos religiosos ou outros prejulgamentos, constata-se que não há uma definição clara do que realmente significam igualdade e inclusão para os povos de todas as religiões, raças e gênero.
O Relatório sobre o Estado das Cidades do Mundo 2010/2011, citado por Padmashree Sampt, também deixa claro que, a exemplo das cidades da África e da América Latina, a inexistência de políticas consistentes e a falta de uma coordenação eficiente na formulação, planejamento e implementação de políticas de nível local, foram identificadas como fatores determinantes para explicar porque as cidades não conseguiram integrar, de forma orgânica, as quatro dimensões da igualdade.
Se você teve paciência para chegar até essa parte do texto, pode estar se perguntando: _ Mas o que eu tenho a ver com quem mora na Ásia? Tem tudo a ver, porque a preocupação com um mundo melhor não deve estar restrita apenas ao que ocorre na nossa aldeia ou à sujeira que encontramos no próprio umbigo.
Dormir em noite de chuva, sob um edredon fofinho, é ótimo, mas e quem está nas comunidades carentes, morrendo de frio e, literalmente, debaixo de água e lama, muitas vezes, como é que fica? Ter dinheiro para ir ver o filme da moda no shopping também é perfeito... Mas o que está sendo oferecido de lazer para quem mora na periferia?
Como está a questão da desigualdade social nas cidades da Ásia, da África, da América Latina? E sua cidade, será que ela é, realmente, inclusiva? O que as autoridades estão fazendo a esse respeito? O que VOCÊ pode fazer para tornar o município onde você mora melhor - e para todos, de verdade?
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