terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pedro, o filho do síndico e o poder

A arcaica (e perigosa) mania de estendermos o poder concedido aos nossos gestores a seus parentes e aderentes é algo que precisa ser banido da sociedade – e quanto mais cedo melhor.

Quem não conhece o relato de alguma situação em que o filho, a mãe, a esposa, ou mesmo o sobrinho, de algum vereador ou prefeito é alçado ao ‘status’ de autoridade apenas pela relação de parentesco?

Ora é o filho de um governador que, sem cargo algum legítimo, arvora-se poderes para dar ordens em órgãos e instituições; ora somos nós mesmos que concedemos (por medo ou pura herança cultural) este poder.

Um desses parentes estrelados comete uma infração no trânsito, mas logo é liberado: “Psssssssssiu... É o filho do governador”, as pessoas cochicham (e logo silenciam), em uníssono. A filha de um prefeito chega numa repartição e recebe tratamento diferenciado. E os salamaleques que lhe fazem tornam-se benesses, paparicos, facilidades... Muitas, muitas e muitas vezes às custas do erário.

Sem procuração alguma, estendemos o poder a quem não o possui de direito. Um legado histórico que precisa, talvez, ficar restrito apenas aos livros e às estantes empoeiradas - não mais em nossas relações sociais.

Ao contrário disso, infelizmente, esse já ultrapassado comportamento apega-se às nossas estruturas como um mel grosso, de cor e aromas fortes. Entranha-se em nosso dia-a-dia e toma conta, até mesmo, das brincadeiras infantis.

Dia desses, em meu prédio, o filho do síndico agrediu um coleguinha de pouca idade, porque o pequenino resolveu brincar no pátio – recentemente lavado por ordens de seu pai, o síndico.

Poucos dias depois, em minha sala, a turminha brincava com um videogame e meu filho alertou a todos que G. (a criança poderosa em questão) teria mais tempo no playstation.

_ Por quê, filho? Eu indaguei.


_ Ah, mãe, ele é o filho do síndico. Ele tem poderes.


Não, meu querido Pedro. Filho de síndico não pode mais que nenhuma outra criança do prédio. Nem se fosse filho do prefeito, do governador, ou da recém-empossada presidente da República, poderia mais que as outras.

O poder é bem-vindo e necessário às estruturas e hierarquias da sociedade, mas precisa ser exercido de forma ética. Deve ser utilizado em benefício da coletividade e não para ampliar as diferenças entre os indivíduos. O poder, em sua acepção mais simples (ter possibilidade de, ou autorização para), deve estar atrelado apenas àqueles que o possuem por direito. A partir daí, sim, construímos um bom começo para a nossa história.

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