terça-feira, 6 de julho de 2010

Cadê a educação que estava aqui? A falta de compromisso comeu

Uma escola pública no Brasil tira nota 0,5 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), mas o fracasso é atenuado. As vozes oficiais preferem destacar que metas definidas pelo Ministério da Educação foram atingidas na maioria dos Estados brasileiros. Mais: a desgraça (que não é pouca) de nossos milhares de alunos dói menos do que a derrota da seleção brasileira na Copa da África do Sul.

Somos 190 milhões de mentes e corações que se moldam em verde-amarelo, que se travestem de vuvuzelas compradas nas lojas de importados, mas impotentes para exigir “educação pública e de qualidade” para nossos filhos. O trecho anterior em aspas virou jargão sindicalista, mas a evolução tão esperada no ensino brasileiro não veio.

Durante uma discussão sobre o tema, uma colega de trabalho não entendia minha indignação com resultados tão pífios expostos pelo Ideb. “Mas são alunos de escolas públicas! Você esperava o quê, Angélica?”

Esperava mais – e sempre espero. Sim, são alunos de escolas públicas e, principalmente por isso, merecem mais. Afinal, seus pais, além de impostos pagos a cada produto ou serviço adquiridos no Brasil, também depositam ali esperança: de sair do barraco, de não depender do Bolsa Família, de ver no filho um sonho realizado. Outra: são esses alunos com notas tão baixas que depois vão disputar vagas em universidades públicas, ao lado de quem teve uma educação melhor. Pergunto: é desse lote de pontuações grotescas que sairão profissionais aptos ao mercado de trabalho?

Ora, se me contento ao ver alunos da Paraíba atingir nota 3,9, festejo junto às autoridades por isso e esqueço que também há paraibanos tirando nota 0,5 é porque eu também quero muito pouco da vida.

“Cadê o queijo que estava aqui? O rato comeu!” Brinca há décadas a meninada. E por que não propor versinhos diferentes? Cadê a educação que estava aqui? A falta de compromisso comeu!!! A falta de vergonha na cara levou!!! O jeitinho brasileiro, paraibano, maranhense, sergipano de forjar dados, de fraudar licitações, de engabelar o povo, matou!!!

Nota 0,5 é zero. Média 1,4 significa zero para a educação também. Como não passa de zero a média que merecem nossos políticos, tão ávidos em somar e recontar apoios na surdina. Tão espertos – e olha que nisso eles têm expertise mesmo – na hora de justificar porque não investem, na Educação, o percentual mínimo de 25% exigido pela Constituição Federal!

Tão dissimulados são os nossos “doutores da politicalha” ao fingirem que pagam o piso nacional da educação aos professores! Tão ardilosos, quando fazem festa com toda a pompa de inauguração, apenas para assinar uma ordem de serviço de uma obra futura – que muitas vezes sequer sai dos textos informativos enviados para a imprensa...

Perdoe-me se você pensa diferente! De minha parte, não consigo enxergar seriedade ou mesmo inspiração para um mundo melhor num município, num Estado, num país que não levam a sério a educação de suas crianças e jovens! Numa escola particular, meu filho aprendeu a ler aos 5 anos de idade. Uma priminha sua, que estuda na rede pública no vizinho município de Santa Rita, vai completar 10 anos sem ter o mesmo êxito.

Os dados apontados pelo MEC sobre o ensino na rede privada também não são o que a classe média esperava, mas todos fingem que o mundo das letras e números está às mil maravilhas. E vão empurrando isso pra frente, com o notebook no colo, o Ipad na mão, a tão imensa TV de LCD na sala... Afinal, há dinheiro sobrando para se pagar um professor particular, o cursinho pré-Enem, um “reforço” para o filho que acabou de concluir o curso de Direito, mas que não se confia na hora de encarar a prova da OAB.

Hummm, educação de qualidade, nota baixa no Ideb, professores com salários aviltantes... Será que nada disso tem a ver com o processo eleitoral? Se você tem alguma dúvida, deixo aqui a provocação: pesquisando bem, em três meses será possível enxergar além das promessas de campanha. E ver quem, de fato, não segue a vida política pela Cartilha da Enrolação.


Em tempo: Entre os municípios com as piores notas no Ideb 2009 na 4ª série estão cinco cidades da Bahia, duas do Piauí, duas da Paraíba e uma do Pará. Para saber mais sobre o Ideb, acesse: www.mec.gov.br

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