Projeto de Lei em tramitação na Câmara dos Deputados torna obrigatório o aviso de manipulação de imagens em peças publicitárias. Na prática, o PL 6853/10 (ou Lei do Photoshop, como já vem sendo chamado) obriga que imagens que tenham sido alteradas venham com o seguinte alerta: “Imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada”.
Em bom português, caso o PL seja aprovado, a velha prática de clarear pele, limpar olheiras, retocar seios e sumir com indícios de celulite, pneuzinhos e que tais das beldades que aparecem em várias capas (e no recheio, claro) de revistas só poderá ser feita se o consumidor for devidamente informado que aquela imagem – longe de ser real – é uma grande farsa.
O tema foi abordado no jornal Folha de São Paulo há exato um mês (18 de abril passado) e já provoca polêmica. Para o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar), a lei é subjetiva e o Código de Defesa do Consumidor já prevê sanções, com prisão e multa, para veiculação de propaganda enganosa ou abusiva. Já o deputado federal Wlamidir Costa (PMDB-PA), autor do projeto de lei, afirma que a manipulação de imagens é propaganda enganosa.
Para o professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Ailton Amélio, figuras fictícias apresentadas como ideais criam um padrão de beleza artificial, levando as pessoas que tentam atingi-lo a exageros e frustrações.
"Eu consigo aumentar o comprimento das pernas de tal maneira que nenhuma mulher tenha, ou uma pele tão isenta de qualquer defeito, uma simetria perfeita entre o lado direito e o lado esquerdo do corpo. Então, com o programa eu consigo produzir figuras humanas impossíveis de serem alcançadas, mas que são lindíssimas, às vezes têm um tremendo sex appeal. E aí as mulheres e homens tentam desesperadamente se aproximar desse modelo impossível", comenta Ailton Amélio em matéria publicada no site da Câmara.
Aos meus olhos, a proposta é, no mínimo interessante, justamente por isso: fomenta a discussão não apenas sobre a alteração de imagens, mas principalmente sobre a ditadura da beleza. Meninas e mulheres veem garotas “perfeitas” na mídia e querem ser daquela forma: bunda e peitinho no lugar certo (e tamanho idem); cabelos maravilhosos; barriga sequinha e sensual; quadril sem sombra de culote; etc cétera, et cétera, et cétera.
Tudo totalmente padronizado, fomentando uma geração de mulheres sem identidade própria e que acorda e dorme com inúmeros grilos a respeito da própria aparência, que, em geral, foge ao estereótipo do Photoshop.
Esta semana, na revista Época, o médico Mehmet Oz, que virou astro na TV americana como o Doutor Oz, também comentou sobre esse exagero: “ Acho que estamos chegando a um ponto de saturação. Se você quebra o nariz, tem lábio leporino ou papada caída, a operação plástica é necessária. Mas o que existe agora é uma padronização da beleza. Está cada dia mais difícil diferenciar as mulheres”.
Num tempo de excesso de cirurgias plásticas, abuso do Photoshop e meninas (de todas as idades, não se enganem) frustradas com o que encontram no próprio espelho, é preciso parar e descobrir o belo em si mesmo. O mundo todo igual não tem graça. Viva a diferença!
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